domingo, 14 de janeiro de 2007

As Raizes da Riqueza por John Ruskin - 1860

John Ruskin


A resposta que será dada por qualquer economista político comum às sentenças contidas no capítulo anterior(1), em poucas palavras é a seguinte:

“É sem dúvida verdade que certos benefícios de natureza geral podem ser obtidos pelo desenvolvimento de afectos sociais. Mas os economistas políticos nunca consideraram ou consideram, levar em consideração os benefícios de natureza geral. A nossa ciência é simplesmente a ciência de ficar rico. Longe de ser falaciosa ou visionária, verifica-se por experiência ser efectiva. As pessoas que seguem os seus preceitos ficam realmente ricas, e as pessoas que os desobedecem ficam pobres. Todo o capitalista adquiriu a sua fortuna seguindo as conhecidas leis desta ciência, e aumenta diariamente o seu capital através da sua aplicação. É um exercício vão emitir truques de lógica, contra a força de factos bem sucedidos. Todo o homem de negócios sabe por experiência como o dinheiro é ganho e como é perdido.”

Peço desculpa. Homens de negócio sabem realmente como conseguem adquirir o seu dinheiro, ou como, ocasionalmente o perdem. Jogando um jogo há muito praticado, estão familiarizados com as chances das suas cartas, e podem correctamente explicar os seus ganhos e percas. Mas eles não sabem quem mantém a banca da sala de jogo, que outros jogos podem estar a ser jogados com as mesmas cartas, nem que outros ganhos e percas, longe nas ruas obscuras, são essencialmente dependentes dos seus dentro das salas iluminadas. Aprenderam poucas, e apenas poucas, das leis da economia mercantil; mas nenhuma das da economia política.

Ricos precisam de Pobres

Antes de mais, o que é notável e curioso, é que os homens de negócio raramente sabem o significado da palavra “riqueza”. Pelo menos, se sabem, não admitem nos seus raciocínios tratar-se de uma palavra relativa, implicando o seu oposto “pobreza” como a palavra “norte” implica o seu oposto “sul”. O Homem quase constantemente fala e escreve como se as riquezas fossem absolutas, e fosse possível, seguindo certas regras científicas, todos serem ricos. Enquanto os ricos são um poder como o da electricidade, agindo apenas através de desigualdades ou negações desse poder. A força da moeda presente no seu bolso depende completamente da sua falta no bolso do seu semelhante. Se ele a não quiser, ser-lhe-á inútil para si; o grau de poder que possui depende precisamente da necessidade e desejo que ele tiver por ela, - e a arte de se tornar rico, no senso comum economista mercantil, é igualmente e necessariamente a arte em manter o seu semelhante pobre.

Não me contento nesta matéria (e raramente em qualquer outra), pelos termos aceites. Mas desejo que o leitor claramente e profundamente compreenda a diferença entre as duas economias, às quais os termos “Política” e “Mercantil” não podem, de forma não precipitada ser associados.

Economia Política

Economia política (a economia do estado, ou do cidadão) consiste simplesmente na produção, preservação, e distribuição, de coisas úteis e aprazíveis em alturas e locais bem definidos. O lavrador que corta o seu feno na altura certa; o carpinteiro naval, que prega as suas cavilhas nos locais certos; o construtor que assenta tijolos de forma bem ordenada, a dona de casa que limpa a mobília na sala, e limita o desperdício na sua cozinha; a cantora que disciplina e nunca sobrecarrega a sua voz: são todos economistas políticos no verdadeiro e final sentido do termo; adicionando continuamente valor à riqueza e bem estar à nação que eles amam.

Economia Mercantil

Mas a economia mercantil, a economia da “penalidade” ou do “pagamento”, significa a acumulação, nas mãos de indivíduos, de legal ou moral direito a, ou de poder sobre o trabalho dos outros; implicando precisamente cada uma das exigências, tanta pobreza ou dívida de um lado como riqueza ou direito doutro.

(...)

Impacto da Desigualdade

O estabelecimento de tal desigualdade não pode ser evidenciada no abstracto, quer nas vantagens ou desvantagens para a nação. A presunção absurda e precipitada de que essas desigualdades são necessariamente vantajosas, tem a sua raiz nas falácias populares sobre o tema da economia política. Como lei eterna e inevitável relativa a este tema, é a de que o benefício da desigualdade depende, primeiramente, dos métodos segundo os quais tal é atingido, e, secundariamente, do propósito segundo o qual é implementada. Desigualdade em riqueza, injustamente estabelecida, tem indubitavelmente ferido a nação onde existe durante o seu estabelecimento; e, impõe prejuízos ainda maiores durante a sua existência. Mas em contrapartida, desigualdades de riqueza justamente estabelecidas, beneficiam a nação no decurso do seu estabelecimento; e, nobremente usadas, ajudam ainda mais durante a sua existência. É o mesmo que dizer, ao longo de toda a população activa e bem governada, as várias capacidades dos indivíduos, testadas através do seu exercício e especialização a várias necessidades, geram resultados desiguais mas harmoniosos, recebendo recompensas e autoridade de acordo com a sua classe e serviço; enquanto, na população inactiva e mal governada, os graus de decadência e as vitórias de conspirações criam o seu próprio sistema grosseiro de subjugação e prosperidade; e substituem assim, pela desigualdade harmoniosa, a dominação desigual e a crise, da culpa e desgraça.

Dinheiro como Sangue

A circulação de riqueza numa nação assemelha-se à do sangue num corpo animal. Existe um impulso na corrente que vem da alegria das emoções ou do exercício saudável; e outro que vem da infelicidade ou da doença. Existe um fluxo no corpo cheio da calor e vida; e outro que redunda em putrefacção.

A analogia sustenta-se ao mais pequeno pormenor. Assim como a determinação local de sangue doente implica uma degradação da saúde geral do sistema, todas as acções locais mórbidas dos ricos terão consequência final no enfraquecimento dos recursos do corpo político.

Saúde ou Doença

O modo segundo o qual se chega à analogia anterior, pode ser entendida examinando-se um ou dois exemplos do desenvolvimento da riqueza nas mais simples circunstancias possíveis.

Simples Exemplo

Suponha-mos dois marinheiros deixados numa praia deserta, e obrigados a manterem-se através do seu próprio trabalhos ao longo de anos.

Se ambos mantiverem a sua saúde, e trabalharem regularmente amigavelmente um com o outro, poderão construir para eles uma casa cómoda, e com o tempo vir a possuir uma quantidade de terra cultivada, juntos terão várias reservas para uso futuro. Todas estas coisas serão verdadeiras riquezas ou pobrezas; e, supondo que ambos os homens trabalharam de forma igualmente árdua, terão dessa forma igual direito à partilha ou uso do que fizeram. A sua política económica consiste basicamente na cuidada preservação e justa distribuição dessas possessões. Talvez, no entanto, após algum tempo um ou outro poderão ficar insatisfeitos com os resultados da sua agricultura comum; e podem em consequência concordar em dividir a terra que possuem em duas partes iguais, para que cada um possa agora trabalhar no seu próprio campo e viver dele. Suponha-mos agora que após esta mudança se ter concretizado, um deles adoece, e fica incapacitado de trabalhar a sua terra num período crítico – digamos na sementeira ou na colheita.

Ele irá naturalmente pedir ao outro para semear ou colher por ele.

O seu companheiro poderá dizer, com toda a justiça, “Eu irei fazer esse trabalho por ti, mas tens de prometer fazer o mesmo por mim noutra altura. Eu irei contar quantas horas perco no teu terreno, e deverás assinar uma promessa de trabalho pelo mesmo número de horas no meu terreno, sempre que precisar da tua ajuda, e tu a poderes dar”.

Suponha-mos agora que o inabilitado continua doente, e por várias razões ao longo de vários anos, necessitando da ajuda do outro, assinando em cada evento uma caução para – trabalhar assim que estiver habilitado, às ordens do seu companheiro, pelo mesmo número de horas que o outro lhe disponibilizou. Qual será a posição dos dois homens quando o inválido estiver apto a executar o seu trabalho?

Considerada como uma cidade, ou um estado, eles estarão mais pobres do que estariam de outra forma: pobres pela eliminação do trabalho que o homem doente teria produzido nesse período. O seu amigo pode talvez ter trabalhado arduamente devido à maior necessidade, mas no fim a sua própria terra e propriedade sofreram pelo retirar do seu tempo e propósito por ela; e assim a propriedade conjunta dos dois homens será certamente menor do que seria se ambos se mantivessem saudáveis.

Mas a relação entre eles é ela própria significativamente alterada. O homem doente penhorou não só o seu trabalho por alguns anos, mas provavelmente esgotou também a sua reserva acumulada, e terá em consequência por algum tempo, de depender do outro para comer, pela qual pode apenas pagar ou recompensá-lo penhorando ainda mais o seu trabalho.

Supondo que as cauções escritas são totalmente válidas (entre nações civilizadas a sua validade é assegurada por leis), a pessoa que trabalhou até agora para os dois, pode, se assim o escolher, descansar completamente, e passar o seu tempo na ociosidade, não apenas forçando o seu companheiro a amortizar todos os acordos em que entrou, mas também agravando a sua dívida por trabalho futuro, numa quantidade arbitrária, pela comida que lhe é dada como adiantamento.

Pode até não haver a menor ilegalidade (no sentido comum da palavra) no acordo; mas se um estranho chegasse à costa nesta época avançada da sua economia política, ele encontraria um homem comercialmente rico, e outro comercialmente pobre. Ele viria, talvez com grande surpresa, um, passando os seus dias em completo ócio; enquanto outro, trabalhando por dois, e vivendo na escassez e na esperança de num período distante recuperar a sua independência.

Riqueza Mercantil reduz a Riqueza Total

Este, é claro, um exemplo de uma entre muitas outras formas da desigualdade de posse ser estabelecida entre diferentes pessoas, dando origem a formas Mercantis de Riqueza e Pobreza. No caso descrito anteriormente, um dos homens logo no início, pode deliberadamente ter escolhido o ócio, e ter penhorado a sua vida pela tranquilidade presente; ou pode ter gerido erradamente a sua terra, e ter sido compelido a recorrer ao seu vizinho por comida e ajuda, empenhando o seu futuro trabalho por ela. Mas o que eu quero que o leitor perceba realmente, é o facto, comum a um largo número de casos deste tipo, que o estabelecimento da riqueza mercantil que consiste no direito sobre o trabalho, significa a diminuição política da riqueza real que consiste na posse substancial.

Outro Exemplo

tomemos outro exemplo, mais consistente com o decorrer normal dos negócios. Suponha que três homens, em vez de dois, formam uma república isolada, e sentem-se forçados a se separarem por forma a cultivarem diferentes áreas de terra a longas distâncias umas das outras ao longo da costa; cada estado realizará um tipo diferente de produção, e cada um precisará mais ou menos dos materiais produzidos pelos outros. Suponha que o terceiro homem, por forma a poupar o tempo dos outros três, encarrega-se simplesmente de supervisionar a transferencia de bens comuns de uma quinta para outra; na condição de receber uma remuneração suficiente na forma de quota de todas as parcelas transportadas, ou de qualquer outra parcela recebida em troca.

Se este transportador ou moço de recados, trouxer sempre de um estado para outro o que é primeiramente necessário, no momento certo, as operações dos outro dois agricultores seguirão prósperas, e o maior resultado possível na produção, ou riqueza, será atingido pela pequena comunidade. Mas suponha que nenhuma comunicação entre os proprietários rurais seja possível, excepto através do agente transportador; e após um certo período de tempo, este agente, vendo o decorrer da agricultura de cada homem, retém os artigos cuja a entrega lhe foi confiada, até um período de grande necessidade, quer dum lado quer doutro, e depois pede em troca tudo o que o desesperado agricultor pode dispor noutro tipo de produtos; é fácil de ver que através de uma observação sagaz das oportunidades, ele pode fazer posse regular da maior parte dos produtos em excesso vindos de ambos os estados, e por fim, depois de alguns anos de severa provação ou escassez, adquire ambas as terras, e manterá os anteriores proprietários com seus trabalhadores ou servos.

Isto seria um caso de riqueza comercial adquirido nos exactos princípios da economia política moderna. Mas mais significativo do que no primeiro exemplo, neste é evidente que a riqueza do Estado, ou dos três homens considerados como uma sociedade, é colectivamente menor do que aquela que se teria conseguido se o mercador se tivesse contentado com o saldo justo. As acções dos dois agricultores foram restringidas ao máximo; e as limitações ininterruptas do abastecimento de bens necessários nos momentos críticos, junto com a desmoralização para o trabalho, devido ao prolongamento de uma luta pela mera existência, sem qualquer sentimento de ganho, deve, ter diminuído seriamente os resultados do seu trabalho, e a quantidade de bens finalmente acumulados nas mãos do mercador não terão de forma alguma o valor daqueles conseguidos caso tivesse sido honesto, estes teriam dessa forma enchido imediatamente os armazéns dos agricultores e do próprio.

Riqueza Pessoal pode ser o Resultado do Bem ou do Mal

A grande questão, é portanto, respeitante não só a vantagem, mas do mesmo modo à quantidade, de riqueza nacional, resumindo-se finalmente a uma justiça abstracta. É impossível concluir, para qualquer quantidade de riqueza adquirida, se significa um mal ou um bem para a nação em que se insere, meramente pelo facto de sua existência. O seu valor real depende do valor moral que lhe é associado, tal como de certa forma uma quantidade matemática depende do sinal algébrico que lhe é associado. Qualquer acumulação de riqueza comercial pode ser consequência, por uma lado, de uma indústria justa, de novas fontes de energia, ou do engenho produtivo; ou, por outro lado, pode ser indicativo dum luxo mortal, duma tirania implacável, ou dum sofisma nocivo. Alguns tesouros estão carregados de lágrimas humanas, como uma doentia colheita atacada por uma chuvada prematura; e algum do ouro é mais brilhante à luz do sol do que o é em substância.

E note que estes não são meros atributos patéticos ou morais das riquezas, que o colector de riquezas, se assim o escolher, pode desprezar; eles são com certeza, atributos materiais das riquezas, que depreciam ou valorizam incalculavelmente, o valor monetário do montante em questão. Uma certa quantidade de dinheiro é o resultado de acções que o geraram, —um outro montante, de acções aniquiladas, —de valor igual a dez vezes tanto ao da reunião deste último; tais foram as fortes mãos paralisadas, como se tivessem sido entorpecidas por beladonas: tantas coragens desfeitas, tantas operações produtivas impedidas; estas e outras falsas direcções dadas ao trabalho, e uma falsa imagem de prosperidade estabelecida, representada nas planícies de Dura, cravadas com fornalhas sete vezes aquecidas. O que parece ser riqueza pode na verdade ser um indicativo dourado de uma extensa ruína; um punhado de moedas recolhido da praia por um mal intencionado rebocador retiradas do navio iludido; um grupo de acompanhantes de campo vestidos de trapos retirados das vestes de apresentáveis soldados mortos; campos de argila para venda, onde serão juntamente enterrados o cidadão e o estranho.

Compre Barato, Venda Caro

E portanto, a ideia de que diferentes direcções podem ser dadas no adquirir de riqueza, independentemente da consideração moral das suas fontes, ou que qualquer lei técnica ou geral de compra e ganho pode ser estabelecida como prática nacional, é talvez a mais insolentemente fútil de todas as que enganaram os homens pelos seus vícios. Até agora quanto sei, não há registo histórico de algo tão intelectualmente vergonhoso como a moderna ideia descrita pelo seguinte texto comercial, "Compra no mercado mais barato e vende no mais caro", e que não representa, ou sob qualquer circunstâncias pode representar, um princípio aceitável de economia nacional. Compre no mercado mais barato? — Sim; mas o que fez dele um mercado barato? O carvão pode ser barato por derivar de madeiras de telhado depois de um fogo, e tijolos podem ser baratos nas suas ruas depois que um terremoto; mas fogo e terremotos não podem ser benefícios nacionais. Venda no mais caro? — Sim, verdade; mas o que fez dele um mercado caro? Vendeu bem o seu pão hoje; foi a um homem moribundo que lhe deu a sua última moeda por ele, e nunca necessitará mais de pão, ou a um homem rico, que comprará a sua quinta às custas da sua cabeça; ou a um soldado a caminho do seu banco onde você depositou a sua fortuna para o saquear?

Nenhuma destas coisas poderá saber à partida. Apenas uma poderá: nomeadamente, se o seu negócio é justo e de confiança, que é tudo o que precisa de saber relativamente a ele; claro, ter feito a sua parte, levando por fim a um mundo onde não haverá pilhagens ou morte. E assim, toda a questão relativa a estes assuntos, difunde-se no fim, nas grandes questões da justiça (...)

Foi demostrado que o principal valor e virtude do dinheiro consiste no seu poder sobre os seres humanos; este, sem esse poder, torna grandes posses materiais inúteis, e para alguém possuidor de tal poder, comparativamente desnecessário. Mas o poder sobre seres humanos, é conseguido por outros meios que não o dinheiro. Como disse há algumas páginas atrás, o poder do dinheiro é sempre imperfeito e duvidoso; há muitas coisas que não podem ser alcançadas com ele. Muitas alegrias podem ser dadas aos homens que não podem ser compradas com ouro, e muitas fidelidades se podem encontrar que não podem ser recompensadas com ele.

Ouro Invisível

Suficientemente banal, — o leitor pensa. Sim: mas não é tão banal assim, — desejava que fosse, — neste poder moral, bastante inescrutável e imensurável que possa ser, há um valor monetário tão real como aquele representado por dinheiro bem mais concreto. A mão de um homem pode estar plena de ouro invisível, e a sua vaga, ou aperto, conseguirão mais que a de outro com um volumoso monte de ouro. Este ouro invisível, não necessariamente se diminui com o gasto. Economistas políticos farão bem em lhe tomar atenção um dia, embora não lhe possam tirar medidas.

Mas além disso. Desde que a essência de riqueza consiste na sua autoridade sobre os homens, se a sua riqueza aparente ou nominal desvanecer nesse poder, fracassará na sua essência; aliás, cessará de ser riqueza de todo. Ultimamente não tem parecido em Inglaterra, que a nossa autoridade sobre os homens seja absoluta(2). Os servos mostram alguma disposição em investir libertinamente para cima, sob a impressão de que os seus salários não são regularmente pagados. Devemos prever infortúnio a qualquer propriedade a cujo proprietário tal lhe tenha acontecido dia sim dia não na sua sala de visitas.

Assim, o poder da nossa riqueza parece limitado no que respeita ao conforto dos seus servos, não menos do que à sua quietude. As pessoas na cozinha aparecem mal vestidas, sórdidas, meio esfomeadas. Não se consegue deixar de pensar que as riquezas do Statu quo, devem ser de uma característica muito teórica e documental.

As Verdadeiras Raízes da Riqueza

Finalmente. Como a essência da riqueza consiste no seu poder sobre os homens, não se conclui que com o nobre e o crescente número de pessoas sobre os quais este poder cai, maior será a riqueza? Talvez possa parecer depois de alguma consideração, que são elas, as pessoas, a riqueza —que estes pedaços de ouro com os quais nós temos o hábito de os guiar, são, de facto, nada mais que um tipo de arreio ou armadilha bizantinos, muito resplandecentes e belos aos olhos de um bárbaro, com os quais nós freamos as criaturas; mas se estas mesmas criaturas podessem ser guiadas sem o incómodo e o tinir da bizantinice nas suas bocas e orelhas, talvez elas podessem ser mais valiosas do que os seus freios. Aliás, pode ser descoberto que as verdadeiras raízes da riqueza são vermelhas —e não de Pedra, mas de Carne —talvez o resultado final de toda a riqueza esteja na produção tanta quanto possível de criaturas alegres de olhos brilhantes, peitos cheios, e de corações felizes. A nossa riqueza moderna, penso eu, tem antes uma tendência no sentido oposto; —a maioria dos economistas políticos parecem considerar as multidões de criaturas humanas não conducente a riqueza, ou no melhor dos casos, conducentes a ela na forma de olhos sombrios e de peitos apertados.

Não obstante, está em aberto, repito, a questão séria, que deixo à ponderação do leitor, se, entre a indústria nacional, as Almas de boa qualidade, em última instancia, não podem dirigir uma outra bem mais lucrativa? Mais do que isso, num tempo distante e inimaginável, eu posso mesmo imaginar que a Inglaterra atirará todos os pensamentos possessivos de riqueza de volta às nações bárbaras de onde estes primeiramente surgiram; e isso, enquanto as areias do rio Indo e as pedras de Golconda, sobrecarregam os cestos do cavalo, ou cintilam no turbante do escravo, ela, como uma mãe cristã, pode por fim alcançar os tesouros e as virtudes de um comum Pagão, e ser capaz de levar adiante os seus Filhos, dizendo—

"Estas são as MINHAS Jóias."(3)


(1) The Roots Of Honour, John Ruskin - http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Ruskin
(2)
Em 1857 dá-se a revolta dos Sipais - http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_sipais
(3)
Dito pela singela Cornélia sobre os seus filhos – Tibério Graco

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